Poesia ácida.

24 agosto, 2009

ácida
porém árida

toda a sorte insolúvel

em um coração de papel


a tropicalidade do seu sorriso
exposto ao sol que queima sem dor

trouxe-me a
insolidez que é o amor
tatuado em uma rocha escondida no fundo do mar


não ouses afinar a voz
para dizer o que é certo ou errado

fique escondido no teu eterno egoísmo

e eu ficarei aqui no meu a esperar


já não sei o que espero
in
compreendo cada pensamento efêmero
e que bom que são pensamentos curtos e sem vida

pois assim vivo mais, com o tão pouco que me preenche

Conto particular

23 agosto, 2009

O que importa ter os pés no chão, se o coração e a mente criaram asas?
Esse é o meu sonho: voar. Por que não podemos voar?
E porque pergunto tanto os porquês?
Meu sonho é um conto de fadas particular, em que o moço vem à beira do mar
Nada de cavalos e príncipes vestidos de branco - é um conto de fadas de verdade.
Um conto onde o amado me leve para passear na garupa da bicicleta
E me suje de sorvete de morango.
Que diga que sou linda quando acordo
Que grite baixinho "eu te amo" olhando nos meus olhos.
Um conto de fadas onde o amor me deixe só quando preciso
Mas que venha correndo quando eu precisar de um abraço.
Um amor de mentiras, cheio de verdades doces
Que brinque de corre-corre pela casa e me pegue com um beijo.
Um amor, só um amor.
Mas ao mesmo tempo em que quero este amor, este amor é inalcançável. É distante e é um conto de fadas, e no final a abóbora toma o lugar do coração. E me pergunto, de novo, porque não espero um amor qualquer que apenas preencha meu tempo. Um amor qualquer que não me conheça, somente saiba meu nome e a quantidade de açúcar do meu café amargo.
O amor é como a flor que desabrocha na primavera, espalha polens pelo verão, seca no outono e morre no inverno, mas em seguida vem a primavera e a flor, antes adormecida, renasce mais bonita.
Tenho falado muito de amor, e agora eu cansei.
Alguém me disse um dia que sou "ácida"...
De fato o amor queimou dentro de mim.
Mas eu continuo esperando o conto de fadas. E enquanto espero, meus pés estão no chão, enquanto meu coração voa e a mente volta diariamente para me manter viva.

Trechos de Clarice Lispector

20 agosto, 2009

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo. "

Ritmo e Poesia.

19 agosto, 2009



A flor e o seu altar
Reconstrói sua raiz em frente ao mar

Desenvolve a sede de encontrar
O tal futuro em seu próprio mundo particular


Escreve sonetos ao luar
Sonha talvez um dia procurar
Um tempo que não exista
Cansa, mas acredita

Que o sol não queima
E a lua não arde
A pele da pétala ofusca o brilho
Incandesce as cores do arco-íris e teima

Teima em não ficar em um só lugar

Desfaz as rimas para escrever livremente
Seus polens sobre o campo fértil

Fértil como a ânsia de desenvolver seu caule


E tocar o sol, fazendo sombra aos enamorados

Em ritmo e poesia ejacular seus frutos
Sobre o mundo, e encantar os corações áridos
Tornando-os amenos e tropicais.

Ana Carolina, Dentro.

12 agosto, 2009

Ana Carolina é sim intensa, desesperada, apaixonada. Mas cada letra e melodia é tão verdadeira, tão conto de fadas.

Publico hoje uma música do novo álbum, N9ve: Dentro. É linda, prestem atenção na letra: tem paixão, loucura e apego.

Me escondi
Pra não ter que ver você dizer
Coisas que eu não merecia ouvir
Era você ou eu

Escolhi
O pior lugar pra me esconder
Me tranquei por dentro de você
E não sei mais sair

Pela rua penso em ti
Volto em casa, penso em ti
No trabalho sem querer
Quando vejo tô pensando em você
E surgi de onde eu não imaginei
E aprendi que eu nunca sei
Enganar meu coração

Escrevi frases soltas pelo chão
Esperei você dormir
Pra jurar minha paixão


Por mera vibração.

07 agosto, 2009

Eu acho que me acho.
Eu me perco e me atraiu.

Sinto o cheiro e busco o toque.

Custo a perceber, mas consigo absorver.

Rimas sem letras, poesias sem ritmo.

Luares sem brilho. Sol sem calor.

Rio de tudo que é errado e belo.

Deságuo em teus mares e me reparto em fontes.

Não cruzo os dedos, mas intercalo cada artéria pulsante em meu peito.

_____


Mera vibração, tudo por acaso, mera distração.

.

Eu me inverto.
Incompreendo-me.

Gosto de formar palavras e sussurrá-las.

Ritmo e poesia.

Não gosto de ser normal, e não sou. Mas gostaria de ser.

Dou risada das minhas próprias besteiras, dos meus erros.

Gosto de errar, pois aprendo mais fácil.

Gosto de acertar, pois desaprendo.

Tento me definir, mas não tenho conceitos.

Escrevo na parede do meu quarto e dizem que sou rebelde.

Vez em quando escrevo sobre assuntos diferentes e dizem que sou louca.

Louco é quem vive na estabilidade e faz dela um cotidiano inútil.

Tenho medo de escrever, pois sempre encontro uma maneira de me contradizer.

Às vezes gosto de escrever essas bobagens. Principalmente quando quero me conhecer.

E não acredito ser isso tudo que digo. Mas penso, e se penso existo.

Chega. Ninguém me lê e isso são só palavras e palavras não falam, por isso escrevo.

É como sentir o momento e não lembrar.

03 agosto, 2009

A vida é uma só, mas mesmo assim repartimos em outras, em pequenos momentos de vida. Viver é um fato, morrer é outro. Ou morremos ou estamos vivos. Porém, vivemos várias vidas em uma só. Tão difícil não nos apegarmos a essas vidas, por mais que não queiramos o outro momento estará ali, aqui intrínseco, repartindo cada instante de vida.

É fácil nos desligarmos de outras vidas? A solidão é um dos melhores momentos de prazer que podemos ter. E a solidão a dois? Contradições. É o que somos.

Então, de repente nos vemos tentando apagar uma outra vida da nossa memória. Como num passe de mágica. Não entenda como um amor hetero ou homossexual, entenda como qualquer relação afetiva ou profissional. Passamos a viver a nossa vida, independente da outra. Não mais vivemos a vida de outro indivíduo, mas não esquecemos.

É como escutar Leela James (Music) e não lembrar daquela tarde de sábado. É como ir à beira do mar, sentar no banco, fumar um cigarro e não lembrar dos devaneios. É como escutar jazz ou Chico Buarque e simplesmente não lembrar das “trocas de figurinhas.” É como escutar rap e não lembrar daqueles dias embalados pelo mesmo beat no Fruity Loops. A vida é coisa louca. É um devaneio absurdamente lógico.

No entanto, sobrevivemos enquanto não morremos de fato e, de certo modo deixamos a nossa vida aberta para outras vidas. Para que o ciclo recomece quando quisermos apertar o play. E aquela vida que morreu (mas continua viva) na nossa vira uma semente. E as sementes têm vida. Mas não as regaremos mais.

A vida é um eterno ciclo. Gosto de falar da vida, por que vida é mistério. E todo mistério é interessante e instigante. Vidas que se vão e vidas que surgem. Que bom interagir e amar cada vida e crescer constantemente. Vida é um conjunto de milhares de virtudes e adjetivos. Se eu não parar aqui vou escrever várias páginas tentando decifrá-la e conceituá-la. Mas vida é isso aí – não é apenas estar vivo. E mesmo depois de ler tudo sobre o que é a vida propriamente dita nos perguntaremos: Mas que diacho é a vida mesmo? Melhor deixe.