Abriu
os olhos. Avistou o dia pela fresta da cortina. Bocejou e se alongou
preguiçosamente. Tentou lembrar de seus sonhos e pensou que poderia ficar ali,
eternamente naquela mesma posição. Mas não. Levantou-se, deu bom dia à flor
murcha sobre o armário. Até as flores murchas escondem sua beleza original.
Preparou o café. Cortou um belo e suculento pedaço de melancia. Queria alguém
para conversar naquele instante. Tornou a olhar para dentro de si e
conversou.
Folheou
algumas páginas de um livro inacabado. Passou os olhos pelas responsabilidades
do dia. Comeu a melancia como se fosse o último pedaço. Fez um misto e tomou
duas canecas de café preto. Colocou algumas músicas para tocar. Escreveu
algumas frases soltas. Fez algum planejamento. Listou e separou alguns artigos.
Pensou e pensou. Parou para cantar aquela música que gosta. Sorriu e dançou.
Expôs seus ombros ao balançar da melodia. Acostumada com a sua solidão,
deleita-se. Ninguém teria como julgá-la naquele momento só dela.
Fechou
os olhos e se imaginou. Imaginação era o forte dela. Adorava imaginar. Tal como
Alice, como Cecília. Como Lispector. Tem medo dela mesma, das pessoas e da
vida. Mas a segue. De alguma forma, há algo superior que a destina, que a
segura. Na sua eterna insegurança, presencia sua luta dia após dia. Luta por
qual causa? Ela não sabe. Apenas luta, dentro de si. Às vezes pensa em nada, ou
seus pensamentos fazem uma reviravolta na mente e nenhum deles se encontra. Ah!
Como queria. "Queria o quê?" Quer. Quer um sorvete de açaí, calda de
chocolate e balas de goma.
Gosta
de fantasiar, amar, gostar, rezar, sucumbir. Receia querer tanta coisa. A vida
não é um mar de rosas. As rosas murcham. Mas lá no horizonte, bem lá
longe, sabe que a vida é boa. De alguma forma, ela é boa. Do jeito dela, do
jeito que só a vida sabe ser. Fez seu almoço. Lavou as louças. Pensou no longo
dia que tem pela frente. Mais uma vez quis alguém para conversar. Olhou para
dentro de si e silenciou.
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