O dia e as rosas

16 março, 2012


Abriu os olhos. Avistou o dia pela fresta da cortina. Bocejou e se alongou preguiçosamente. Tentou lembrar de seus sonhos e pensou que poderia ficar ali, eternamente naquela mesma posição. Mas não. Levantou-se, deu bom dia à flor murcha sobre o armário. Até as flores murchas escondem sua beleza original. Preparou o café. Cortou um belo e suculento pedaço de melancia. Queria alguém para conversar naquele instante. Tornou a olhar para dentro de si e conversou. 

Folheou algumas páginas de um livro inacabado. Passou os olhos pelas responsabilidades do dia. Comeu a melancia como se fosse o último pedaço. Fez um misto e tomou duas canecas de café preto. Colocou algumas músicas para tocar. Escreveu algumas frases soltas. Fez algum planejamento. Listou e separou alguns artigos. Pensou e pensou. Parou para cantar aquela música que gosta. Sorriu e dançou. Expôs seus ombros ao balançar da melodia. Acostumada com a sua solidão, deleita-se. Ninguém teria como julgá-la naquele momento só dela. 

Fechou os olhos e se imaginou. Imaginação era o forte dela. Adorava imaginar. Tal como Alice, como Cecília. Como Lispector. Tem medo dela mesma, das pessoas e da vida. Mas a segue. De alguma forma, há algo superior que a destina, que a segura. Na sua eterna insegurança, presencia sua luta dia após dia. Luta por qual causa? Ela não sabe. Apenas luta, dentro de si. Às vezes pensa em nada, ou seus pensamentos fazem uma reviravolta na mente e nenhum deles se encontra. Ah! Como queria. "Queria o quê?" Quer. Quer um sorvete de açaí, calda de chocolate e balas de goma. 

Gosta de fantasiar, amar, gostar, rezar, sucumbir. Receia querer tanta coisa. A vida não é um mar de rosas. As rosas murcham. Mas lá no horizonte, bem lá longe, sabe que a vida é boa. De alguma forma, ela é boa. Do jeito dela, do jeito que só a vida sabe ser. Fez seu almoço. Lavou as louças. Pensou no longo dia que tem pela frente. Mais uma vez quis alguém para conversar. Olhou para dentro de si e silenciou. 

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