Devaneios.

31 outubro, 2009

Sonho

com um sonho de um dia

realizar o sonho de

sonhar com os olhos abertos e

dormir sem sonhar.

Consequências de uma mente insana.

29 outubro, 2009

Atravessa o mar aberto

... empoeirando o cheiro de maresia.


Combina e bagunça a vontade de escalar as ondas

... e mergulhar no horizonte.


Vive, transcende, acende e convive com seu próprio ser.


Suporta e grita de horror quando entende que seu habitat,

o qual chamam de mundo,

é apenas um amontoado de gente,

gentes insuportavelmente imperfeitas.


Acha que loucura é remédio e psicólogo só existe para tentar mudar o rumo das coisas,

a percepção sobre as coisas.


Nem sempre sabe do que fala, mas escreve o que supostamente entende quando o subconsciente

ilimita sua visão.


Ilimitar a visão é abrir-se para outros mundos.

Mundos desconhecidos, conexos e sem nexos.

Sobrepõe-se sobre si mesma, querendo personalidades distintas que tratam com indivíduos diferentes

e com princípios oblíquos.


É uma.

Às vezes duas ou três.

É um pouco de vida, talvez de poesia.


Na verdade, nada é.

Transformação em andamento, produto inacabado que não vai pra prateleira, muito menos tem valor.

É ela, tal como sobrevive, dia após dia em buscam do seu lugarzinho ao sol.

E só precisa ter papel, caneta e música.

Transformações e devaneios.

23 outubro, 2009





As transformações são cotidianas. Dia após dia visualizamos de maneira diferente a forma de ver o mundo. E quando falo em mundo, refiro-me ao eu que temos conscientes e inconscientes, e sobre as mudanças desse eu que direta ou indiretamente refletem na nossa realidade.


Todo dia paro para pensar no que possuímos dentro. As incógnitas que nos fazem perambular pelos mais vastos pensamentos. Você não? Desculpe, às vezes quero ter certeza que não sou a única louca que (sobre) vive neste mundo que chamamos de nosso, mas que tomamos sem pedir permissão e saímos por aí tentando mudar.


Como é difícil mudar e como é satisfatório quando o conseguimos. As mudanças de que falo vão muito além do que transformar a rotina. Está nos detalhes. Os detalhes enriquecem. Observação é a palavra-chave da transformação. Quando paramos para escutar atentamente uma canção, sentir a palavra e a melodia, vivenciamos um momento único, entre nós e nós mesmos. Assim como trabalhamos para concretizar um sonho, correr atrás daquele objetivo que só você entende... É vivenciar o momento, as emoções, a sorte.


Isso mais parece um artigo de autoajuda. Talvez por que eu esteja o tempo todo tentando me curar. Mas me curar de quê? Pergunto-me. De mim mesma, talvez. Ok, ok paranóia Clarice Lispector se acendeu novamente, ou só aquela ansiosa Cecília que briga dentro de mim.


Parei.


O eu que transformo é a Lívia de hoje, de amanhã, de depois de amanhã. Eu me transformo, enfeito-me de verdades e mentiras sobre mim e passo a entender cada dia mais o que me rodeia. E até fecho os olhos para não compreender, mas de que adianta fechar os olhos se os pensamentos têm asas e me levam?


Você acha graça em si mesmo? Eu me olho no espelho e vejo uma criança que brinca, no entanto uma criança que cresce e possui dentro de si um medo que não se quantifica, qualifica-se. Mas é melhor deixar para lá. Perdi o fio da meada desse texto e gosto de me perder.

O que há em mim?

19 outubro, 2009

O que me invade?
Persiste uma leve lembrança do que sou.

O que me tenta?
Sugere o meu subconsciente tão cansado de tentar.

O que me agrada?
Olhar-me no espelho ao acordar, com os cabelos emaranhados pelas reviravoltas que dei em sonhos.

O que me deixa viva?
O coração, órgão que pulsa involutariamente dia após dia.

O que não me deixa desistir?
Objetivos e desejos sem sentidos, para os outros.

Porque faço tantas perguntas desconexas?
É a vontade de me conhecer sem pressa de entender.

O que me faz falar?
A luta que há em mim.

O que me faz calar?
O silêncio é o meu clamor.

O que me excita?
A combinação conexa de instrumentos musicais. Aquela melodia que me invade lentamente.

O que me invade?
Além de uma melodia? As palavras sinceras e os desejos reclusos.

O que há em mim?
Uma crescente inconstância.

O que me deixa com ódio?
A ingratidão.

O que me faz chorar?
O cantar de um passarinho.

Se estou chorando agora?
Não posso perder meus costumes.

Chega de perguntas?
Acho que sim.

Mas, o que há em mim?
Um amontoado de matéria bruta revestida por uma vontade de viver que não tem sentido.

Trechos, por Clarice Lispector

05 outubro, 2009

Cadê eu?

... perguntava-me.

E quem respondia era uma estranha que me dizia fria e
categoricamente: tu és tu mesma.

Aos poucos, à medida que deixei de me procurar fiquei distraída e sem intenção alguma.

Eu sou hábil em formar teoria.
Eu, que empiricamente vivo.

Eu dialogo comigo
mesma:
exponho e me pergunto sobre o que foi
exposto,
eu exponho e contesto, faço perguntas a uma audiência invisível
e esta me anima com as respostas a prosseguir.

Quando me olho de fora para dentro eu sou uma casca de árvore a não a árvore. Eu não
sentia prazer.

Depois que eu recuperei
meu contato comigo
é que me fecundei e o resultado
foi o nascimento alvoroçado
de um prazer todo diferente

do que chamam
prazer.

Clarice Lispector, trechos da obra
Um sopro de vida: pulsações.

Sonhe acordado.

03 outubro, 2009

Na edição de junho (2009) da revista Saúde (Editora Abril) saiu uma matéria sobre os devaneios e as consequências positivas que podem causar. Eu, como devaneadora de carteirinha, li e logo pensei em postar as partes mais relevantes da publicação.

Por Kátia Stringueto

Estudos comprovam que investir em momentos de devaneio é fundamental para a criatividade e ainda se torna uma habilidosa ferramenta contra o estresse.
Stringueto afirma que a vida depende da criatividade, seja para encontrar uma maneira mais flexível de trabalho, para escrever um texto, para desenvolver produtos, entre outros. Cita que a virologista americana Beatrice Hanh, que se dedica ao estudo da aids, disse que pensar fora da caixa é sempre uma boa pedida. Beatrice, que é da Universidade do Alabama, se referia à descoberta de uma nova técnica de combate à doença. Em vez de usarem o sistema de defesa do organismo, muito comprometido pelo vírus HIV, os pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia apelaram para as células musculares a fim de estimulá-las a produzir anticorpos. Deu certo. Embora ainda não seja a cura do mal, a descoberta foi vista como promissora. E, sem uma bela parcela de imaginação, nada teria acontecido. Esse desfocar, como definiu Beatrice, percorre novas áreas do cérebro, assopra a poeira dos pensamentos guardados no inconsciente e, eureca!, joga luz sobre respostas.
Desde então outros estudos são feitos para confirmar a tese. Kalina Christoff, professora da Universidade British Columbia (Canadá), através de imagens de ressonância magnética provou que o cérebro está muito mais ativo durante o devaneio do que se possa imaginar. A pesquisa, que foi publicada em uma revista específica, concluiu que esse "estado" pode ser comparado a um momento de raciocínio lógico. Ou seja, todo tipo de divagação compreende a área da memória, as redes neurais ligadas às lembranças se mostraram mais ativadas do que aquelas relacionadas a tarefas rotineiras.
O devaneio se inicia no sistema límbico, o qual envia imagens e sensações para o córtex através de aproximadamente 400 mil conexões. No sentido contrário, há apenas 20 mil vias de acesso. Isso prova o esforço gigantesco que o cérebro faz para impor a razão sobre a emoção.
Devaneio é
Um capricho da imaginação, é fantasiar, criar uma história, ouvir uma música e se transportar no tempo, fugir do trivial.

Devaneio não é
Ficar martelando uma ideia, ter pensamentos que fazem sofrer, dar uma volta no quarteirão preocupado com os problemas que tem pra resolver.

Stringuetto continua a matéria apresentando que o mérito do devaneio vai muito além. Ao tornar o pensamento flexível, produz-se novas conexões entre as células nervosas - essa atividade é chamada de sinapse silente, pelos cientistas. É comparada a uma ginástica que possibilita a criação e ensaios para tomadas de decisão. Freud, sobre esse "treino mental", comenta: Você pode engatar em ações sem nenhuma consequência. Pode imaginar-se ridicularizando seu professor ou dando uma surra no seu chefe, sem pretender, de fato, fazer isso. Sobre isto, Stringueto diz que para a alma é um benefício imenso, descartando a brincadeira.
A matéria tem ricas informações que complementam o tema, mas não seria legal transpor todo o conteúdo para cá, até por que é extensa. Mas termino com um parágrafo que, pra mim, diz muita coisa:
"Sonhar acordado é nada menos do que essencial para a sobrevivência", defende o psicólogo especializado em neuroendocrinologia Esdras Vasconcellos, da USP. "Sem esse momento de dispersão, o cotidiano fica frio, concreto e racional demais. E a mente não dá conta. A consequência pode ser a erupção de um transtorno como o pânico", alerta.
A neurociência sempre me chamou muito a atenção, principalmente pelos inúmeros mistérios que guardamos entre as nossas conexões, bem como o nosso coração que, pode nos pregar uma peça e, simplesmente, para de pulsar. Nós, leigos, não teremos profundos conhecimentos sobre o funcionamento do organismo, por mais que coletemos informações através de pesquisas, de fato pouco entenderemos essa loucura que é a existência. Frente a isso, podemos devanear e imaginar tantas coisas, sem ter medo ou vergonha de exagerar nas milhões de possibilidades que encontramos no subconsciente. Devaneios nunca serão meros devaneios tolos. E por isso eu adoro.

A quitanda.

02 outubro, 2009

Rodolfo não perde a chance de implicar com Rebeca, todas as tardes passa na quitanda para importuná-la. A quitanda fica ao lado de sua casa e Rodolfo compra balas antes de ir para a faculdade. As balas são um motivo para ver Rebeca, mas como é orgulhoso, Rodolfo perde as horas enquanto atrapalha Rebeca no serviço.
Rodolfo só estuda e faz uns bicos vez em quando. Rebeca é uma continuação da quitanda, uma espécie de "faz tudo" em relação aos controles e atendimento de cliente. O local é bonitinho, todo em madeira, música ambiente, flores por todos os lados e guloseimas de todo o tipo. Rebeca, com toda a sua paciência, mantêm o sorriso enquanto escuta os flertes indiretos e brincadeiras de Rodolfo.
- Você não está atrasado para a sua aula, Rodolfo?
- Sim, estou.
- Então, por que você ainda está aqui?
- Está me mandando embora?
- Não. Se quiser ficar plantado aí o tempo todo fique à vontade. Só não sei por que você fica perdendo aulas pra ficar aí à toa enchendo meu tempo de baboseiras.
- Nossa, quanto mal humor.
- Você me irrita profundamente, Rodolfo! - Ela fala sussurrando para que ninguém ouça.
- Tudo bem, então. Vou embora. Até amanhã.
Ela revira os olhos, agora impaciente, pois sabe que amanhã ele estará de volta. Três dias depois e nada do Rodolfo aparecer. No quarto dia, Rebeca fica espreitando a porta da casa dele, ninguém entra e ninguém sai. Final da tarde, posiciona a cadeira perto da porta da quitanda esperando que ele saia para ir à faculdade. Ele sai e passa pela frente da quitanda...
- Não vai comprar suas balas hoje, Rodolfo? - Rebeca fala em tom de zoação.
- Não, obrigado. Estou atrasado.
Rebeca estranha a atitude de Rodolfo, mas fez que não está nem aí e solta uma gargalhada.
- Do que você está rindo?
- Da sua pose de garoto responsável!
- Você se acha muito esperta, né? É uma pena que você não tenha me conhecido tão bem quanto conheço você.
Rebeca solta outra gargalhada.
- O que você sabe sobre mim, Rodolfo? Não sabe nada. Você que é um mimado...
- Realmente você não me conhece. Não vou perder mais tempo. Tchau.
A seriedade de Rodolfo mexeu com Rebeca. Apesar das implicâncias, tornaram-se bons amigos, e Rebeca tem apreço por ele. Desde então, Rebeca não para de pensar em Rodolfo. Depois de um tempo, percebe que sente falta das brincadeiras dele. Volta e meia come as balas que ele costumava comprar. Apreensiva decide pedir desculpas. Em uma caixinha colocou todas as balas que ele gosta e duas barrinhas de Twix, o chocolate preferido dele, e um bilhete: "Sinto falta das tuas brincadeiras, seu chato. Beijo, Rebeca." Falou com a Rose, mãe dele, para deixar a caixinha em cima da cama. Rodolfo arranjou um emprego e já não parava tanto em casa.
No dia seguinte, Rose levou a caixinha de volta para Rebeca, do mesmo jeito que havia deixado. Triste, Rebeca desfez o laço e quando abriu teve uma surpresa: balas de goma coloridas e um bilhete: "E eu, da sua cara de antipática! Beijos, Rodolfo". Ela mandou a caixinha de volta, agora com Sonhos de Valsa e um bilhete: "Você que nunca teve paciência comigo". Ele retornou, agora com balas de caramelo e um bilhete: "Também, haja paciência para ter paciência com você". A caixa foi e voltou mais umas cinco vezes, até que se cruzaram quando Rebeca estava fechando a quitanda.
- Parece que nos conhecemos bem - Disse Rodolfo.

- Você estava certo quando disse que me conhecia mais do que eu mesma.
- Sempre tenho razão.
- Lá vem você com esse arzinho de "sabe tudo".
Rodolfo pega Rebeca pela cintura quando ela tenta dar as costas. Ele a puxa para dentro da quitanda e fecha as portas. Ela não fala nenhuma palavra, apenas olha fixamente para os olhos dele. Delicadamente, Rodolfo espalha caramelo nos lábios dela e a beija como se fosse o último Twix de sua vida.

Outra vez a bolha.

Lá vem ela. Levemente à procura de alguém. Escolheu-me novamente, envolveu-me com sua delicadeza. Tocou-me a pele até o arrepio intenso, e sutilmente encobriu-me de ócio. Um longo silêncio se fez presente e senti o coração pulsando tão devagar que podia ouvi-lo. Ergueu-me o mais alto que pode, até que eu pudesse observar a longitude que eu mantinha entre o eu e o mundo. A sua superfície era intocável, ao contrário eu perderia a sustentação. Represa naquela pequena imensidão, eu e minha pequenez nos envolvemos até nos tornarmos um, tão pequeno quanto um broto. O medo, aos poucos, foi perdendo força e deixei a bolha me levar.
Tão mais longe ia mais eu sentia quão longínquo fiquei do mundo. Comecei a sentir uma leve alegria, tão mais leve quanto ela que carregava o peso de tantas angústias encobertas pelo cotidiano. Pingos de chuva brotavam da sua superfície e pétalas de rosa cobriam meu corpo. O calor era agradável e a melodia que a chuva fazia ao cair era uma singela canção de ninar.
Retirei-me de mim mesma e abri um sorriso amarelo, como uma rosa fui desabrochando o meu pequenino corpo, as pétalas eram os encaracolados dos meus cabelos. As raízes eram a minha mente, tão inconsciente. Os polens eram os meus dedos que onde tocavam surgiam outras flores. A bolha aumentava enquanto uma enorme flora se desenvolvia a minha volta, e eu me tornava uma grande árvore. Eu podia ouvir os risos das belas rosas dando vida a tantas outras. Eu não queria sair daquele sonho. A bolha tornara-se espessa, forte o suficiente para suportar uma rica fauna e flora.
De repente uma escuridão tomou de conta do lugar, e as vidas a quem dei vida começaram a morrer. As folhas da minha árvore começaram a secar e as melodias eram silenciosas. Tive medo outra vez. Em pouco tempo, retornei à posição inicial e como um embrião fiquei à espera de uma nova luz. Um cravo fez a bolha estourar e na viagem de volta ao mundo chorei, com a mesma intensidade de quando brotamos de um ventre.