A quitanda.

02 outubro, 2009

Rodolfo não perde a chance de implicar com Rebeca, todas as tardes passa na quitanda para importuná-la. A quitanda fica ao lado de sua casa e Rodolfo compra balas antes de ir para a faculdade. As balas são um motivo para ver Rebeca, mas como é orgulhoso, Rodolfo perde as horas enquanto atrapalha Rebeca no serviço.
Rodolfo só estuda e faz uns bicos vez em quando. Rebeca é uma continuação da quitanda, uma espécie de "faz tudo" em relação aos controles e atendimento de cliente. O local é bonitinho, todo em madeira, música ambiente, flores por todos os lados e guloseimas de todo o tipo. Rebeca, com toda a sua paciência, mantêm o sorriso enquanto escuta os flertes indiretos e brincadeiras de Rodolfo.
- Você não está atrasado para a sua aula, Rodolfo?
- Sim, estou.
- Então, por que você ainda está aqui?
- Está me mandando embora?
- Não. Se quiser ficar plantado aí o tempo todo fique à vontade. Só não sei por que você fica perdendo aulas pra ficar aí à toa enchendo meu tempo de baboseiras.
- Nossa, quanto mal humor.
- Você me irrita profundamente, Rodolfo! - Ela fala sussurrando para que ninguém ouça.
- Tudo bem, então. Vou embora. Até amanhã.
Ela revira os olhos, agora impaciente, pois sabe que amanhã ele estará de volta. Três dias depois e nada do Rodolfo aparecer. No quarto dia, Rebeca fica espreitando a porta da casa dele, ninguém entra e ninguém sai. Final da tarde, posiciona a cadeira perto da porta da quitanda esperando que ele saia para ir à faculdade. Ele sai e passa pela frente da quitanda...
- Não vai comprar suas balas hoje, Rodolfo? - Rebeca fala em tom de zoação.
- Não, obrigado. Estou atrasado.
Rebeca estranha a atitude de Rodolfo, mas fez que não está nem aí e solta uma gargalhada.
- Do que você está rindo?
- Da sua pose de garoto responsável!
- Você se acha muito esperta, né? É uma pena que você não tenha me conhecido tão bem quanto conheço você.
Rebeca solta outra gargalhada.
- O que você sabe sobre mim, Rodolfo? Não sabe nada. Você que é um mimado...
- Realmente você não me conhece. Não vou perder mais tempo. Tchau.
A seriedade de Rodolfo mexeu com Rebeca. Apesar das implicâncias, tornaram-se bons amigos, e Rebeca tem apreço por ele. Desde então, Rebeca não para de pensar em Rodolfo. Depois de um tempo, percebe que sente falta das brincadeiras dele. Volta e meia come as balas que ele costumava comprar. Apreensiva decide pedir desculpas. Em uma caixinha colocou todas as balas que ele gosta e duas barrinhas de Twix, o chocolate preferido dele, e um bilhete: "Sinto falta das tuas brincadeiras, seu chato. Beijo, Rebeca." Falou com a Rose, mãe dele, para deixar a caixinha em cima da cama. Rodolfo arranjou um emprego e já não parava tanto em casa.
No dia seguinte, Rose levou a caixinha de volta para Rebeca, do mesmo jeito que havia deixado. Triste, Rebeca desfez o laço e quando abriu teve uma surpresa: balas de goma coloridas e um bilhete: "E eu, da sua cara de antipática! Beijos, Rodolfo". Ela mandou a caixinha de volta, agora com Sonhos de Valsa e um bilhete: "Você que nunca teve paciência comigo". Ele retornou, agora com balas de caramelo e um bilhete: "Também, haja paciência para ter paciência com você". A caixa foi e voltou mais umas cinco vezes, até que se cruzaram quando Rebeca estava fechando a quitanda.
- Parece que nos conhecemos bem - Disse Rodolfo.

- Você estava certo quando disse que me conhecia mais do que eu mesma.
- Sempre tenho razão.
- Lá vem você com esse arzinho de "sabe tudo".
Rodolfo pega Rebeca pela cintura quando ela tenta dar as costas. Ele a puxa para dentro da quitanda e fecha as portas. Ela não fala nenhuma palavra, apenas olha fixamente para os olhos dele. Delicadamente, Rodolfo espalha caramelo nos lábios dela e a beija como se fosse o último Twix de sua vida.

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