Lá vem ela. Levemente à procura de alguém. Escolheu-me novamente, envolveu-me com sua delicadeza. Tocou-me a pele até o arrepio intenso, e sutilmente encobriu-me de ócio. Um longo silêncio se fez presente e senti o coração pulsando tão devagar que podia ouvi-lo. Ergueu-me o mais alto que pode, até que eu pudesse observar a longitude que eu mantinha entre o eu e o mundo. A sua superfície era intocável, ao contrário eu perderia a sustentação. Represa naquela pequena imensidão, eu e minha pequenez nos envolvemos até nos tornarmos um, tão pequeno quanto um broto. O medo, aos poucos, foi perdendo força e deixei a bolha me levar.
Tão mais longe ia mais eu sentia quão longínquo fiquei do mundo. Comecei a sentir uma leve alegria, tão mais leve quanto ela que carregava o peso de tantas angústias encobertas pelo cotidiano. Pingos de chuva brotavam da sua superfície e pétalas de rosa cobriam meu corpo. O calor era agradável e a melodia que a chuva fazia ao cair era uma singela canção de ninar.
Retirei-me de mim mesma e abri um sorriso amarelo, como uma rosa fui desabrochando o meu pequenino corpo, as pétalas eram os encaracolados dos meus cabelos. As raízes eram a minha mente, tão inconsciente. Os polens eram os meus dedos que onde tocavam surgiam outras flores. A bolha aumentava enquanto uma enorme flora se desenvolvia a minha volta, e eu me tornava uma grande árvore. Eu podia ouvir os risos das belas rosas dando vida a tantas outras. Eu não queria sair daquele sonho. A bolha tornara-se espessa, forte o suficiente para suportar uma rica fauna e flora.
De repente uma escuridão tomou de conta do lugar, e as vidas a quem dei vida começaram a morrer. As folhas da minha árvore começaram a secar e as melodias eram silenciosas. Tive medo outra vez. Em pouco tempo, retornei à posição inicial e como um embrião fiquei à espera de uma nova luz. Um cravo fez a bolha estourar e na viagem de volta ao mundo chorei, com a mesma intensidade de quando brotamos de um ventre.
0 comentários e idéias:
Postar um comentário