pequenos contos (4)

16 dezembro, 2008


- Cecília, posso entrar?
- Sim, Sr. Lopes, pois não?
- Quero que venha passar o natal em minha casa, com a minha família. O que me diz?
- Mas Sr. Lopes não quero incomodar.
- Por favor, Cecília se você me incomodasse já tinha te mandado embora!

Riram.

Cecília já estava pensando na ceia de natal, o primeiro de muitos que passaria sozinha. Mesmo receosa de não ter todo aquele calor e fraternidade que sempre tivera nos seus natais, estava tranqüila, encarou aquela solidão como um retiro espiritual. Mas confessa para si que adorou o convite do Sr. Lopes, já tinha certa amizade com as filhas dele. Até se convidou para passar o natal na casa de Laís, mas a família dela passaria o natal no sul.

Todo aquele espírito de final de ano era nostálgico, Cecília já não via o natal com os olhinhos de criança a esperar pelo papai noel e todos os seus amigos a brincar na rua durante o dia vinte e cinco de dezembro. Reservou-se a pensar em si sem fazer planos para o próximo ano, precisava organizar mais sua vidinha e então quando tivesse tudo em perfeita estabilidade começaria a pensar em algumas ações.

De todo modo, sentia que aquele final de ano tinha uma espécie especial de sensação. Foi um ano de muitas realizações, principalmente pessoal.

- Oi Luan, tudo bem?
- Oi linda, tudo bem e com você? Saudades suas.
- Saudades também. Estou bem. Liguei para te dizer que não poderei passar o natal com você e sua família, pois tenho outro compromisso nesta data. Mas podemos pensar na festa de ano novo, juntar a galera da faculdade e tal. O que acha?
- Juro que senti por você não passar conosco, mas a escolha é sua. E quanto ao ano novo, claro que podemos providenciar.
- Ótimo! Então, lá pelo dia vinte e nove eu te ligo para podermos combinar.
- Mas só no dia vinte e nove, to querendo um beijo seu.
- Ai que bonitinho que você é, Luan. Sim, só no dia vinte e nove, no dia vinte e seis acho que vou a minha casa ver minha mãe e minha irmã.
- Certo, tudo bem eu entendo e fico com saudades.
- Que bom que você é compreensivo. Bom, tenho que desligar, preciso terminar uns relatórios. Beijinhos.

Cecília conheceu Luan no primeiro dia de faculdade, foi o primeiro a puxar papo com ela e descobriram muitas coisas em comum. Ele queria namorá-la, apesar de gostar bastante dele, não sentia sentimento suficiente para algo mais sério. Além do mais, havia outra pessoa perturbando o sono dela.

Fim do dia e férias coletivas. Cecília saiu do trabalho e foi ao Centro comprar uma roupa nova para o Natal e para o Ano Novo.

- Bernardo?
- Cecília?
- Nossa, quanto tempo rapaz.
- Pois é, você nunca mais foi almoçar no meu restaurante.
- Ai Bernardo, tá tudo tão corrido. E no final das contas só nos encontramos quando digito a sua conta lá no atendimento automático.

Riram.

- E aí, onde vai passar o Natal?
- Na casa do meu chefe.
- Hm, legal. Então, se não tiver compromisso para o Ano Novo, fechei uma festa no bloco C do Clube, o jantar será servido pelo meu restaurante. Se quiser comparecer vou adorar, e se quiser levar mais alguém manda e-mail com os nomes.
- Pôxa, Bernando, legal. Vou ver com um pessoal e te aviso então. Obrigada pelo convite.
- Até logo, Cecília.

A família Lopes sempre foi muito atenciosa com Cecília, gostavam muito dela e a receberam muito bem durante a ceia.

- Um momento Marina, vou atender meu celular.
- Alô?
- Mana?
- Oi, que voz é essa?
- Papai mana. Papai faleceu.

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