O pensamento filosófico e a física

01 julho, 2009

Albert Einstein em seu livro intitulado Como Vejo o Mundo (1981) conta, em um dos capítulos, a época em que foi convidado a escrever um artigo sobre Bertrand Russel. Antes de iniciar seu discurso, faz alguns questionamentos relacionados à física e ao pensamento filosófico. Agradei-me das interrogações que descrevo a seguir.


Primeiramente, ele mesmo admite a sua ineficiência no processo de escrita, principalmente no que diz respeito ao Russel, no entanto, um pensamento o consola: quem fez a experiência de pensar em outro domínio sobrepuja sempre aquele que não pensa de modo algum ou muito pouco.


Em seguida ele começa o seu artigo e faz as seguintes indagações:

Na história da evolução do pensamento filosófico através dos séculos, uma questão vem sempre em primeiro lugar: que conhecimentos o pensamento puro, independente das impressões sensoriais, pode oferecer? Será que tais conhecimentos existem? Do contrário, que relação estabelecer entre nosso conhecimento e a matéria bruta, origem de nossas impressões sensíveis? [...]

Um crescente ceticismo manifesta-se diante de qualquer tentativa de procurar explicar pelo pensamento puro “o mundo objetivo”, o mundo dos “objetos” oposto ao mundo simplificado das “representações e dos pensamentos”.


Diante dessas perguntas, questionei-me sobre onde ele queria chegar: Será que não conseguiríamos explicar o mundo objetivo sem as influências que, de certo modo, transformaram o nosso pensar? É necessário considerar nossas impressões sensoriais para explicar as coisas do mundo? E como nos abstermos do pensamento puro?


Fiquei certo tempo pensando sobre isso. Continuei a ler, e Einstein cita a introdução de um livro de Russel, An inquiry into Meaning and Truth:


Começamos todos com o realismo ingênuo, quer dizer, com a doutrina de que os objetos são assim como parecem ser. Admitimos que a erva é verde, que a neve é fria e que as pedras são duras. Mas a física nos assegura que o verde das ervas, o frio da neve e a dureza das pedras não são o mesmo verde, o mesmo frio e a mesma dureza que conhecemos por experiência, mas algo de totalmente diferente. O observador que pretende observar uma pedra, na realidade observa, se quisermos acreditar na física, as impressões das pedras sobre ele próprio. Por isto a ciência perece estar em contradição consigo mesma; quando se considera extremamente objetiva, mergulha contra a vontade na subjetividade. O realismo ingênuo conduz à física, e a física mostra, por seu lado, que este realismo ingênuo, na medida em que é conseqüente, é falso. Logicamente falso, portanto falso.


Muitas coisas, neste trecho, respondem aos questionamentos anteriores. Sabe-se, ou ao menos se considera que tudo é física. A vida é física, por mais que no longínquo de nossos pensamentos atrelamos à Deus a nossa existência. No entanto, tudo parece mais entendível quando pensamos na física como criadora do Universo. Ainda que toda a subjetividade esteja nas entrelinhas.


Continuo a refletir sobre o que Einstein e Russel disseram, e me fascina questionar-me por meio das minhas observações quais seriam a respostas exatas – se é que existem. Estou engolindo o livro, tenho que ir e vir para compreender o pensamento do autor. Já separei mais alguns trechos interessantíssimos que logo publicarei aqui para questionarmos juntos os questionamentos da vida. Se conseguirmos sair da zona de conforto que nos acomoda e nos transforma em meros expectadores.


Até a próxima. E aproveito para agradecer os comentários do post anterior, obrigada por não me deixarem desistir, um beijo.


EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. 13. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

2 comentários e idéias:

Gustavo Scussel disse...

Já me peguei várias vezes pensando nisso e até arriscando ler e (não) entender completamente certos livros, como "O Universo Numa Casca de Noz." Satisfez algumas curiosidades mas não chegava perto da grande solução do mistério das interpretações.
Depois de muito tempo, não tinha mais vontade de sair disso: interpretação. Se você tivesse somente uma forma de fazer um jogo específico, qual seria a graça de ver outras pessoas fazendo? Se houvesse somente uma resposta universal para tudo, qual seria a idéia da variedade? A pedra continua lá. Alguém pode pensar nela como uma pedra, um objeto sólido e nada mais. Eu posso pensar nela como uma boa ferramenta para me defender de um tigre na selva. Interpretação!

Isobel disse...

Já estava com saudades das suas distrações (:
Beijão :*