Confusões

12 setembro, 2009

Era um sonho. Um pesadelo lindo. Uma imensidão de imagens absortas em volta de si mesma. Não soube distinguir o que foi verdade do que pareceu irreal. Dançava, era o que ela lembrava nitidamente. A areia tocava-lhe os pés e o barulho das ondas a envolvia naquela maresia inebriante. O horizonte e a extensão da praia era tão distante que mal pode ver-se no reflexo do seu mundo.
Foi tomada por dentro em um intenso êxtase, a pele arrepiava em movimentos circulares como a um tornado furioso, mas que não leva nada além do orgasmo que sentia enquanto o sol acariciava seu corpo, seu corpo inerte e sem pulsação. O pulso que ainda pulsava vinha de dentro, sentia que seu coração estava prestes a explodir. Como a uma pétala, sentiu um toque em seus lábios. Seus lábios que queimavam ódio. Seu corpo que exalava vingança. Seu coração que suplicava por falta de batimentos.
Não queria viver, pensou. E aquelas sensações sombrias e inimaginárias tornavam tudo tão mais confuso. A criança que antes habitava ali havia morrido, consequências obtidas pela mulher que se tornava, aos poucos. A mulher que assassinou a inocência implora para renascer naquele hospício que era o mundo. Gritava, gritou o mais alto que pode, mas ninguém a escutava, pois o som que saía de dentro era encoberto por situações inacabadas.
Não teve tempo. Não teve tempo para refletir em si e em tudo que fez ao longo de tantos anos. Anos que desejava deixar para trás, querendo renovar a música que surgia lentamente. Compôs algumas melodias, em silêncio, tendo como instrumental o som que o mar fazia. O mar era como remédio entorpecente, que pouco sente e compreende, mas que inunda e afoga todas as angústias. Ela era envolvida tão devagar, sentia levitar o corpo agora tenso, não mais inerte, mas forte e cheio de uma coragem sem definição. Trocava as palavras, confundia-se em adjetivos e substantivos irregulares. Seus verbos sem ação. Mais uma vez a inércia.
Quando voltou a si, inconsciente, sentiu somente a maresia invadir seu quarto, fazendo-a correr e mergulhar no seu mais profundo mar.
Viveu, enfim.

1 comentários e idéias:

Deise Rocha disse...

não sei se vc já leu... mas me lembrou de "Verônica decide morrer" de Paulo Coelho...
a história em si, não tem nada haver... mas me lembrou... talvez pela reflexão e sentimentos q o texto aguça...