reconexão

05 agosto, 2013


Após alguns dias, começava a pousar levemente na terra. Sentindo a energia da gravidade, firmando os pensamentos e reavaliando o tempo que ficara inerte ao mundo, e a ela mesma. Os olhos ainda marejados coloriram o ambiente, iniciava uma profunda conexão com o Ser. Sentiu o corpo, o arrepio da pele, o vento tocar o rosto, o barulho do coração, o pulsar das veias. Voltou a si, portanto. 

Foram momentos de extrema solidão e inconstância, medo e choro, vazio e um preenchimento transbordante que não conseguiu definir a origem, nem mesmo o final... Se é que havia término. Tal como o rio que, em determinado momento, junta-se ao mar sem qualquer destino a partir dali. Teria o rio uma nova origem? Ou ao se embriagar ao mar, seria o fim? Perguntas borbulhantes faziam da sua mente uma enorme bolha, que se expandia de interrogações e pequenas exclamações, para se lembrar que estava viva. 

Tinha total consciência de que tudo que vivera até ali foi, em sua vida, o momento mais especial que pudera ter experimentado. Um momento recheado de pequenos instantes de vida, de gozo, de plenitude, de amor. E lá no fundo, sabia que continuaria a ser mais do que especial. Uma lembrança gostosa da sua breve vivência na terra. 

Não sentia mais tanto medo, o passar das estações a deixou mais leve de certo modo. Sentia-se viva, afinal. E a bolha que explodira deixou fragmentos dos sentimentos que vivera. O coração iluminado pela lua, mantinha-a aquecida. Seu interior tão íntimo trazia a sensação de dever cumprido, e a reconexão com o mundo a certeza de que teria muitos instantes para viver.

Talvez um novo ciclo estivesse começando. Ou tivesse que continuar a caminhar, pois entende que nada tem fim, nem meio. Nem outros começos, apenas um longo caminho de morte e reconexão. Mas em todos os processos, a capacidade de enfrentar-se e descobrir-se e manter aceso o fogo que vibra e reverbera por toda a natureza.

Ainda que a vida seja uma eterna contradição. 

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