Cadê eu?
... perguntava-me.
E quem respondia era uma estranha que me dizia fria e
categoricamente: tu és tu mesma.
Aos poucos, à medida que deixei de me procurar fiquei distraída e sem intenção alguma.
Eu sou hábil em formar teoria.
Eu, que empiricamente vivo.
Eu dialogo comigo
mesma:
exponho e me pergunto sobre o que foi
exposto,
eu exponho e contesto, faço perguntas a uma audiência invisível
e esta me anima com as respostas a prosseguir.
Quando me olho de fora para dentro eu sou uma casca de árvore a não a árvore. Eu não
sentia prazer.
Depois que eu recuperei
meu contato comigo
é que me fecundei e o resultado
foi o nascimento alvoroçado
de um prazer todo diferente
do que chamam
prazer.
Clarice Lispector, trechos da obra
Um sopro de vida: pulsações.
Trechos, por Clarice Lispector
05 outubro, 2009
Escrito por uma tal de... Líviarbítrio. às 20:43
Marcadores: Clarice Lispector.
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7 comentários e idéias:
Muito bom! E a disposição das palavras ficou bonita. ;)
eu conheço a disposição...
ficou meramente..
mto bom
:D
ah! lívia, clarice e o mera distração...
gostei das ressalvas...
Clarice sempre foi das minhas favoritas. Pensamentos não lineares, escrita densa, literatura intensa.
E bela, muito bela, assim como a moça da foto no perfil do blog ...
Clarice é daquelas que se traduz e nos reflete em cada palavra. Belíssimo teu blog.
:D
Hoje, pelo Dia da Ciança no Brasil, venho deixar este texto com laço de fita para a menina Lívia:
"Eu sou criança. E vou crescer assim. Gosto de abraçar apertado, sentir alegria inteira, inventar mundos, inventar amores. O simples me faz rir, o complicado me aborrece. O mundo pra mim é grande, não entendo como moro em um planeta que gira sem parar, nem como funciona o fax. Verdade seja dita: entender, eu entendo. Mas não faz diferença, os dias passam rápido, existe a tal gravidade, papéis entram e saem de máquinas, ninguém sabe ao certo quem descobriu a cor. (Têm coisas que não precisam ser explicadas. Pelo menos para mim). Tenho um coração maior do que eu, nunca sei a minha altura, tenho o tamanho de um sonho. E o sonho escreve a minha vida que às vezes eu risco, rabisco, embolo e jogo debaixo da cama (pra descansar a alma e dormir sossegada). Coragem eu tenho um monte. Mas medo eu tenho poucos. Tenho medo de Jornal Nacional, de lagartixa branca, de maionese vencida, tenho medo das pessoas, tenho medo de mim. Minha bagunça mora aqui dentro, pensamentos dormem e acordam, nunca sei a hora certa. Mas uma coisa eu digo: eu não paro. Perco o rumo, ralo o joelho, bato de frente com a cara na porta: sei aonde quero chegar, mesmo sem saber como. E vou. Sempre me pergunto quanto falta, se está perto, com que letra começa, se vai ter fim, se vai dar certo. Sempre questiono se você está feliz, se eu estou bonita, se eu vou ganhar estrelinha, se eu posso levar pra casa, se eu posso te levar pra mim. Não gosto de meias-palavras, de gente morna, nem de amar em silêncio. Aprendi que palavra é igual oração: tem que ser inteira, senão perde a força. E força não há de faltar porque – aqui dentro – eu carrego o meu mundo. Sou menina levada, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu... Escrevo escondido, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando doi, choro quando não doi. E eu amo. Amo igual criança. Amo com os olhos vidrados, amo com todas as letras. A-M-O. Sem restrições. Sem medo. Sem frases cortadas. Sem censura. Quer me entender? Não precisa. Quer me fazer feliz? Me dê um chocolate, um bilhete, um brinde que você ganhou e não gostou, uma mentira bonita pra me fazer sonhar. Não importa. Todo dia é dia de ser criança e criança não liga pro preço, pro laço de fita e cartão com relevo. Criança gosta mesmo é de beijo, abraço e surpresa."
(Fernanda Mello)
Beijos desta outra menina que adora brincar aqui!
Katyuscia.
Clarice sempre é ótimo, pelo óbvio.
Obrigado pela visita e pela disposição de se emocionar pelo texto. Eu fico muito feliz em saber que minha experiência serve pra vida dos outros e que os toca.
Beijão.
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