pequenos contos (fim).

23 janeiro, 2009

Depois de dois meses Cecília conseguiu recuperar a consciência e aceitar dentro de si a morte do pai. Retornou ao trabalho e à faculdade com certo custo, mas precisava voltar à rotina. Não suportava a idéia de ter o pai morto tão repentinamente sem nem ao menos ter dedicado a ele algumas palavras de carinho, sentia-se culpada. A mãe e a irmã foram morar com uma tia em outro Estado, mantinha contato com elas toda semana e programou vê-las nos feriados mais prolongados.
Os primeiros dias de trabalho foram cansativos, afinal precisava colocar tudo em ordem desde o dia em que ficou ausente da editora.

- Sr. Lopes quero agradecer pela sua compreensão e por ter deixado meu lugar vazio para que eu voltasse.
- Não precisa agradecer, fiz isso porque confio no seu profissionalismo e gosto do seu trabalho. Além do mais, sabia que você não conseguiria trabalhar com tantos problemas.
- Obrigada mais uma vez. Vou voltar para minha sala.
- Cecília?!
- Pois não, Sr. Lopes.
- Enquanto você esteve fora, eu precisei entrar na sua sala algumas vezes, e não pude deixar de folhear seu caderno.

Cecília o olhou surpresa e envergonhada.

- Quero te fazer uma proposta: escreva um livro, a editora banca todos os gastos que houver. Gostei da sua maneira de escrever, poucos são os escritores que conseguem descrever com detalhes tão rebuscados e você tem uma simplicidade nas palavras.
- Sr. Lopes não sei nem o que dizer. Escrever um livro sempre foi um objetivo, não iniciei por não me sentir completamente preparada e, além do mais dispõe de tempo e dinheiro.
- Pois isso não é problema e, por favor, você está preparadíssima. E tenho certeza que o seu pai se orgulharia muito de você.

Cecília não conteve a felicidade e a emoção.

- Acalme-se que agora vem a pior parte. Proponho um desafio: quero o livro pronto em menos e um ano e escolha o tema que preferir.
- Desafio aceito! Farei o meu melhor Sr. Lopes, obrigada pela oportunidade.
- E pare de agradecer, conversamos sobre a minha comissão quando você estiver fazendo sucesso.

Riram.
Cecília estava radiante e identificou naquela oportunidade a força que precisava para continuar sonhando. Mais ainda tinha algo que precisava resolver, mas não era o momento.

Os dias, as semanas, meses se passaram rapidamente. Todos os momentos foram aproveitados e Cecília já conseguia rir à toa. Seu rendimento e seu salário dobraram e o livro já tinha pouco mais de duzentas páginas, além do total aproveitamento na faculdade. Tudo era tão organizado que sobrava tempo para algumas festinhas nas sextas-feiras depois da aula, e aos sábados não abria mão de ir à biblioteca pela manhã fazer suas pesquisas, sempre acompanha pela amiga Laís que estava ocupada com um artigo científico sobre moda, o qual seria publicado numa dessas revistas femininas.

Certa manhã, Cecília recebeu um bilhete:

Como eu queria te dizer sobre o que sinto,
mas tudo é tão confuso.
Receio sua reação e o meu coração explode
todas as vezes que estou na sua presença.
Anonimamente, digo nessas poucas palavras
que eu te amo.

Sentiu um frio repentino e uma mistura de medo e felicidade, pois reconheceu a letra. Há algum tempo queria tanto dizer aquelas e outras palavras a mesma pessoa, mas não podia, não naqueles últimos meses, e talvez nem tão cedo.

O segundo semestre prometia ser bastante corrido. A editora tomava quase todo o tempo durante o dia, houve um 'bum' de escritores, e muitos anônimos pediam revisão, aproveitava o tempo vago na administração e ajudava nas revisões e triagem. Aproveitou as férias da faculdade, pois sabia que precisaria de mais tempo para os trabalhos acadêmicos nos próximos meses. Todo o tempo era precioso e ela não perdia um segundo. Suas noites de sono eram de no máximo quatro horas e não se importava com isso, manter a mente funcionando a deixava calma. Deixou de ir à biblioteca aos sábados e pouco via os amigos, determinou que até o final do ano terminaria suas prioridades com chave de ouro.
Vez em quando lia o bilhete que ficava guardado na sua agenda. Pensava: “ainda terei todo o tempo do mundo para você”. Sorria diante daquela, que ela mesma definia, loucura.

Como previsto, o segundo semestre passou voando e o lançamento do seu livro já estava marcado para o dia 20 de dezembro, às 20hs. Sua mãe e sua irmã já estavam instaladas no seu apartamento ajudando no que podiam para deixá-la mais a vontade com a última revisão do livro.

Eis que chegou o grande dia, e foi um dia gratificante, Sr. Lopes parecia um pai de tão orgulhoso e alguns de seus amigos foram prestigiá-las.

Minha essência em palavras: contos, crônicas e poesias.
Simplesmente Cecília.

O lançamento foi um sucesso, e toda a sua felicidade, Cecília, dedicou ao pai. No dia seguinte, acordou cedo e foi ao parque. Sabia que encontraria a dona do bilhete por lá.

- Laís?!

3 comentários e idéias:

Anônimo disse...

Amoooooooo... espero poder ler mais em breve... =D

=***

Unknown disse...

quero em preve ler coisas mais muitooooooooooooooooo livros 100%@¨&****(

Líviarbítrio. disse...

Que bom poder compartilhar com as minhas meras palavras com vocês.

Logo, logo quem sabe teremos mais uma temporada de Cecília.

Beijos.