Desaprenda

19 fevereiro, 2009

Por Fernando Campos
Meio&Mensagem, p. 9, 28 de abr. 2008.

Uma das características mais marcantes da espécie humana é sem dúvida o aprendizado. Sem a capacidade de aprender não existiria linguagem, ciência, artes, política, não teríamos construído a Muralha da China, descoberto o DNA nem inventado a moqueca de siri mole.
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Tão ou até mais importante do que aprender é a capacidade de desaprender. Na prática, a maior parte das grandes descobertas humanas está mais ligada à capacidade de desaprender as regras vigentes. Pense em Darwin. Sem desaprender tudo o que vinha sendo dito a ele desde pequeno, era impossível se sair com aquela idéia abstrata e ao mesmo tempo absurdamente coerente. Bota capacidade de desaprendizado nisso.
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Liderar e tomar decisões num cenário competitivo não é fácil, e está aqui um exemplo do tamanho desse desafio: o de modificar e adaptar sempre, para permanecer
VIVO. Olha aí Mr. Charles Darwin entrando de novo no texto. Mas é fato que poucas teorias científicas se aplicam com tanta precisão ao cenário de negócios quanto o darwinismo. Imagine o líder dos dinossauros num discurso de fim de ano para dinossauros-acionistas: “Sim, vamos permanecer enormes, isso é o que nos trouxe até aqui. Somos líderes porque somos grandes. Nossa idéia é, inclusive, crescer mais 25% no próximo ano”. Sabemos o final da história.
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Olho para nós mesmos e, descontadas as diferenças sociais, econômicas e culturais, vejo que estamos vivendo o mesmo drama. Um apego às fórmulas que nos fizeram encantar o mundo nos últimos 20 anos (nos 80 com TV, nos 90 com print, migrando para web nos últimos anos). E um medo de mudar o jeito de fazer, mudar os processos internos e as relações até comerciais... Manutenção é a palavra de ordem. Do dicionário vem o sinônimo: manter = conservar. E “conservador” não é exatamente um adjetivo desejável para o nosso negócio, é?
[...]

Talvez esteja na hora de desaprender um pouco.ltimos 20 anos (nos 80 com TV, nos () com print, migrando para web nos ulseparados.

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A essência do artigo é voltada para negócios empresariais, em particular a ferramenta da comunicação - propaganda. No entanto, extrai do artigo o que podemos refletir em relação a nós mesmos.
Pense em quantas vezes realizamos as mesmas coisas do mesmo jeito (lá vai eu falar de rotina novamente), sejam acertos ou erros. Os erros eu perdi as contas – de quantas vezes errei sobre o mesmo assunto.
Quando pequenos acumulamos uma enorme quantidade de informações e escutamos “é desse jeito”, “não, assim não pode”. Condicionam a mente para o que é certo e errado. Mas, um outro alguém pode nos induzir a dizer o que é errado, se é certo para nós? Crescemos frustrados sem saber se é certo argumentar.
Quando amadurecemos e aprendemos – sozinhos – quais caminhos seguir, novas tarefas, novos conhecimentos, um novo jeito de ver o mundo, um amplo mundo que há tempos atrás não passava de uma cabaninha feita de lençol. Neste novo mundo que construímos a partir das nossas percepções, inconscientemente, lidamos com os problemas e a solução desses problemas baseados no que aprendemos lá no passado. Um erro que só traz prejuízo.
Não obstante a isso, o que acumulamos de conhecimento na fase adulta parece que é tatuado em nossa mente e seguimos realizando os acertos e erros da mesma maneira.
Quanto aos acertos, se até então estiverem dando lucro, tudo bem, segue assim. Mas porque não procuramos fazer de outra forma, porque não identificamos oportunidades de fazer diferente?
Tudo depende de nós, o que aprendemos hoje pode ser obsoleto amanhã, e se não desaprendermos logo cedinho na manhã seguinte ficamos no passado.

6 comentários e idéias:

Claudio Justo disse...

Me deixou curioso quanto a seu conto. O que fazemos?

Claudio Justo disse...

Engraçado como "desaprender" soa para mim como "transgredir". Talvez por ser uma transgressor por natureza. Não no sentido ético ou jurídico da palavra. Mas sou adepto da novidade, do renascimento. Em literatura sempre tive a noção de que qualquer coisa por ser reeditada de diversar formas. Os mesmos assuntos são tratados de formas variadas e - por que não dizer? - novas. Porém há o medo. Mudar traz temores. Sobretudo quando lidamos com uma sociedade que, como diz seu texto, prima pelo conservadorismo. Hoje, quando vejo nossa juventude robotizada, sindo um certo temor pelo futuro. Um futuro, ao que tudo indica, perfeitamente previsível.

Claudio Justo disse...

Isso aí... vai publicando em capítulos, já que se trata de um texto mais longo.

Abraços

Eduardo disse...

O desaprender torna-te mais forte...para voltares a aprender de novo, e coisas novas. entendes?
Tem força...e boa sorte.

Gostei muito

Natália disse...

Desaprender, desconstruir!
Isso é muito mais difícil do que aprender e construir.
No último caso, podemos seguir modelos já estabelecidos, podemos trilhar caminhos que outros construíram.

Agora fazer o caminho inverso, isso sim, é tarefa difícil.

Beijos, Lívia

Belo texto para uma quarta-feira de Cinzas.

Deise Rocha disse...

é... desaprender algumas coisas são necessárias...

mas gostaria mesmo é q de vez em qndo, esquecessemos algumas coisas...

talvez não houvesse rotinas e tantos erros... mas talvez...

mas certamente haveria menos dor!